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Inteligência artificial contra câncer de pele

Extensão 48 aborda avanços no diagnóstico de melanoma



| TEXTO: MARIA ALICE DA CRUZ

 

A pele é colorida pela melanina, proteína gerada por células chamadas melanócitos. Estas células podem se alterar e formar tumores, melanomas, na camada mais superficial da pele. O melanoma é um tipo de câncer responsável pela morte de mais de 1.700 brasileiros por ano, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Essas informações precisam ser repetidas em linguagem acessível para estimular a prevenção e o diagnóstico precoce. O melanoma é tema do 25º vídeo do Extensão 48, que aborda o uso da inteligência artificial (IA) no combate à doença e oferece orientações sobre observação, tratamento e prevenção do câncer de pele. 

As pesquisas em IA são coordenadas pela Faculdade de Engenharia Elétrica (Feec) e realizadas em parceria com cientistas da área de dermatologia da Unicamp. A expectativa é ver o benefício prático das experiências em IA na vida de pacientes com melanoma, chegando ao diagnóstico perfeito, mas, por enquanto, as pesquisas, apesar de avançadas, estão longe dele, segundo o professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e da Computação da Unicamp e coordenador do projeto Eduardo do Valle.  

 

Eduardo do Valle, professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e da Computação da Unicamp e coordenador do projeto

 

A “perseguição” ao diagnóstico perfeito já rendeu publicação de artigos em periódicos nacionais e internacionais e conquistas como bolsas de mestrado e doutora pela Google, em 2016, 2017 e 2018, e prêmios em congressos nas áreas de computação e medicina. “Fomos reconhecidos com o prêmio de melhor artigo publicado em 2018 e 2019, no encontro Colaboração Internacional de Análise de Lesões de Pele”, revela o engenheiro de software e mestre pela Feec Fabio Perez.

O professor explica que o projeto tem como objetivo compartilhar o que já existe na área de Visão por computador, que entende imagens, com as áreas da medicina que dependem de imagens. “É uma área que chamamos de auxílio ao diagnóstico.” Diagnosticar o melanoma, segundo o professor, é desafiador tanto para os dermatologistas quanto para o computador, pelo fato de as lesões serem multiformes (aparecer de diferentes formas).

A parceria com a inteligência artificial deve contribuir para a redução de cirurgias desnecessárias e a detecção mais precoce de lesões de risco, de acordo com a professora Renata Magalhães, coordenadora do Ambulatório de Tumores Cutâneos e Melanomas do Hospital de Clínicas da Unicamp. “Com o avanço da tecnologia, a tendência é aparecer outros instrumentos para o diagnóstico clínico. Não seria necessário tirar uma porção de pintas que não teriam risco”. Hoje, o caminho para o diagnóstico é o exame clínico, a avaliação com microscópios (dermatoscopia), encaminhamento de partes de tecidos para biópsia e análise de imagens.

 

Professora Renata Magalhães, coordenadora do Ambulatório de Tumores Cutâneos e Melanomas do Hospital de Clínicas da Unicamp

 

Assim como acontece com a inteligência humana, a máquina precisa conhecer, compreender e aprender informações relacionadas a um conceito. No caso do diagnóstico de melanoma, segundo Sandra Ávila, os cientistas ensinam o computador a interpretar as imagens para oferecer à medicina um resultado de exame confiável e ágil. “Para a máquina fazer detecção por imagens, temos de mostrar vários exemplos para ela aprender”, explica.

Os resultados devem contribuir para que médicos generalistas e outros profissionais da Saúde tenham acesso rápido ao diagnóstico. “Através das imagens, mesmo não sendo especialista, um clínico geral pode reconhecer a lesão suspeita de melanoma e encaminhar para avaliação de uma especialidade”, explica a dermatologista Thais Helena Buffo.

As soluções desenvolvidas no momento da pesquisa em IA pretendem corrigir problemas observados na área de saúde no Brasil, entre eles a redução do número de dermatologistas em relação ao índice de câncer de pele. “O número de dermatologistas não aumenta na mesma proporção do câncer de pele. Sem contar que há lugares no Brasil que nem contam com dermatologistas. Nossa ideia é que um agente de saúde, através das imagens, possa suspeitar da lesão e orientar o paciente a procurar um dermatologista”, acrescenta.

Apesar de apresentar um índice de 95% de cura, o melanoma tem grande chance de metástase, processo em que os tumores podem se proliferar em outros órgãos. Porém, é preciso evitar sofrimento antecipado, até porque a lesão pode ser benigna. Com a ampliação ao acesso às informações, muitos pacientes se assustam ao observar uma nova lesão com os aspectos indicados nas divulgações disponíveis. “Muitas vezes, a lesão é benigna. Por outro lado, algumas vezes o paciente procura o dermatologista por outros motivos, mas no exame encontramos alguma lesão maligna, que chamamos de achado de exame. Ao identificar, já resolvemos o problema. Quanto antes iniciarmos o tratamento, a pessoa tem chance de 100% de cura”, afirma a dermatologista Maria José Salles.

 

Atenção e cuidados

De acordo com a dermatologista Juliana Massuda, do HC da Unicamp, o diagnóstico precoce depende também da atenção do paciente a novas lesões na pele. “São lesões assimétricas, de bordas irregulares, com mais de três cores, maiores que 6 milímetros. Em geral, começam com coceira e sangramento antes não manifestados”, explica Juliana Massuda.

Os melanomas podem surgir por predisposição genética e atingem, na maioria, pessoas com mais de 40 anos, porém, com alguns cuidados, é possível se prevenir. Evitar a exposição ao sol é uma das orientações de Thais. “Em relação à exposição ao sol, é recomendado o uso de filtro solar e também de roupas e chapéus. Apesar da predisposição genética, a exposição ao sol é um dos fatores de risco que conseguimos prevenir”. Ela ressalta a importância de oferta de roupas adequadas e filtros solares, por parte de empresas, a trabalhadores que atuam durante muito tempo sob o sol.

 

A dermatologista Juliana Massuda ressalta a importância da atenção do paciente a novas lesões

 

Apesar de as crianças não se incluírem nos grupos de risco, devem também abusar do uso de filtros solares e vestimentas adequadas, pois, segundo Thais, queimaduras solares na infância podem se manifestar como melanomas na fase adulta.